A escravidão chegou ao Brasil junto dos colonizadores portugueses, logo nos primeiros anos quando começaram a estabelecer regras no território recém “descoberto”, fazer escravos se tornou algo comum, inicialmente com os nativos que foram encontrados na área brasileira, e depois com os africanos que chegavam até a colônia por meio do tráfico negreiro.
Que essa foi uma página horrível e vergonhosa na história tanto brasileira como mundial é fato, no entanto, conhecer mais o modo de vida dos Escravos e as características que rodearam a escravidão é entender pelo o que essas pessoas passaram para que no futuro nada igual aconteça novamente.
Poucos sabem realmente a qual modo de vida os escravos eram subjugados, há alguns detalhes sobre a vida desses povos que passa despercebido por muitos ou até mesmo podem achar que não é algo relevante para compreender a sua história, tal como as roupas usadas pelos escravos.
Essa é uma questão que pode ser analisada para entender melhor a história humana e brasileira. Em muitas organizações sociais ao longo dos anos, o modo de se vestir falava muito sobre o status social de uma pessoa, dessa forma, aqueles pertencentes à nobreza usavam vestes mais luxuosas, e para a população comum restavam às vestes simples e que cumpriam somente a sua principal função, a de proteger determinadas partes do corpo.
Como Eram as Roupas Usadas Pelos Escravos?
O estilo de vida oferecido aos escravos era extremamente precário e totalmente desumano, com condições que beiravam o absurdo, claro que essas características eram refletidas também em suas roupas.
As pessoas escravizadas eram obrigadas a viver em senzalas, local onde passavam as suas noites, quando não estavam trabalhando. Essa era uma espécie de habitação coletiva sem qualquer vestígio de boa condição, estando ao dispor deles apenas esteiras de palha, onde eram distribuídos alguns cobertores e travesseiros, também de palha, normalmente não havia o suficiente para todos os que viviam ali.
As suas peças de roupa eram extremamente simples, feitas com um tecido de algodão grosso. Os homens usavam calça e uma espécie de colete, já as mulheres usavam uma blusa feita com chita ou cretone, dois tecidos de custo baixo, e saia de algodão. Havia diversas manufaturas especializadas em criar essas peças de roupa, já que o número de escravos era bem grande.
Grande parte dos escravos trabalhava em plantações, nesse caso as suas peças de roupas eram as mais velhas possíveis, já que eles passavam a maior parte do seu tempo expostos tanto ao sol intenso quanto a chuvas. Nesse caso suas peças de roupa eram extremamente surradas, herdadas de escravos que já morreram ou que foram trocados por outros.
No caso dos escravos que eram escolhidos para o trabalho doméstico, normalmente escolha feita a partir das características físicas dos mesmos (aqueles que chamavam mais atenção pela sua beleza eram reservados para trabalhar em atividades menos pesadas, dentro dos casarões das fazendas), as peças de roupa escolhidas para eles eram mais limpas e com qualidade superior a dos outros.
Durante os dias frios, os escravos recebiam uma espécie de poncho, também feito em algodão, com um tecido mais grosso. Aqueles que trabalhavam no campo também podiam receber um chapéu para se proteger, porém, era um benefício de poucos.
É importante destacar que quem escolhia qualquer vestimenta usada pelos escravos era sempre o seu senhor, já que ele era considerado o seu “proprietário”, pois essas pessoas eram tratadas tal qual mercadoria. Era responsabilidade desse senhor que os escravos não andassem desprotegidos ou até mesmo contrariando as regras de exposição do corpo.
A maioria dos escravos vivam descalços, principalmente aqueles que trabalhavam no campo. Em alguns casos, os homens sequer recebiam calças, e usavam somente camisas bem longas.
Havia também diferença dos escravos que vivam no campo e daqueles que viviam em meio urbano. Os do campo andavam com vestes piores que aqueles que tinham contato com uma parcela maior da população. Todos tinham em comum o mesmo corte de cabelo, que era bem curto ou até mesmo raspado, para evitar que eles pegassem e proliferassem piolhos, um problema que atingia todas as classes sociais.
Diferenças Das Vestes Dos Escravos Que Vivam No Campo E No Meio Urbano
A quantidade de escravos que uma pessoa possuía demonstrava a sua riqueza e o nível da sua nobreza, com isso, as pessoas que viviam nas cidades, normalmente saiam às ruas junto de um cortejo de servos, que os acompanhavam em qualquer atividade que eles iam fazer. Era importante para os senhores de mais posses demonstrarem que eles tinham muitos escravos, tão importante quanto isso era que os seus servos se vestissem bem, ou pelo menos aqueles que iriam sair em público.
Demonstrar que tinha condições de vestir bem seus escravos consequentemente demonstrava que aquela pessoa era um membro importante da nobreza. Dessa forma, os escravos das cidades que saiam em cortejo com seus senhores usavam peças de roupa a moda europeia, com várias peças que incluíam: calção, camisas, colete, casacas e chapéu. Além de ser uma quantidade maior de peças que os escravos do campo usavam, essas eram feitas com tecidos mais finos que os comumente destinados às vestes de escravos. Mesmo os escravos das cidades não tinham acesso tão fácil a sapatos ou chinelos, assim, alguns deles andavam descalço.
Quando os senhores ou senhoras de engenho queriam sair em uma liteira, que é uma espécie de rede com duas bases de madeira que é carregada pelos escravos, aqueles que a carregavam usavam vestes de tecidos finos, que provavelmente eles recebiam já usadas dos seus senhores. No caso das mucamas, como eram chamadas as escravas que acompanhavam as senhoras, em alguns casos elas usavam lenços no cabelo, e algumas tinham a permissão para usar joias, incrementando ainda mais seu visual.
Os escravos da cidade tinham outra vantagem em relação a aqueles que eram do campo e trabalhavam em plantações, já que eles tinham certa liberdade para fazer negócios, mesmo que esses não fossem completamente legais. Isso ocorria por que os escravos recebiam uma pequena quantia de dinheiro, em alguns casos, que era entregue quase que completa para os seus donos, no entanto, existia a possibilidade de comprar a sua carta de alforria, o que fazia com que vários deles guardassem todo o dinheiro que conseguisse (que era na realidade bem pouco).
Essa forma de ganhar dinheiro era algo fora do serviço que eles eram obrigados a fazer como escravos, ou seja, era uma espécie de serviço extra, como vender doces, bordar, costurar, lavar roupas, pedreiros e mecânicos, e no século XIX se tornou comum alguns escravos se tornarem alfaiates. Eles tinham que conciliar essas funções, entregando ainda a maior parte do que recebiam para seus “donos”. Algumas mulheres ganhavam dinheiro por meio da prostituição.
A partir desse lucro, era possível que os escravos comprassem artigos aos quais eles não tinham acesso, como roupas e joias. Portanto, era possível que eles usassem outras peças, que não as dadas pelos seus senhores. Isso se tornou um costume recorrente, o que acabou fazendo com que fosse proibido que todos os negros usassem tecidos finos, joias ou outros adereços feitos de ouro e brocados, já que isso podia mudar a hierarquia estabelecida de que só os nobres tinham acesso a esses artigos.
Escravidão Moderna E a Indústria Da Moda
A abolição da escravidão ocorreu no Brasil no ano de 1888, sendo um dos países do mundo que demorou mais tempo para criar uma lei que acabaria com essa prática. É de se esperar que em um mundo considerado evoluído, as pessoas não são mais submetidas a condições de trabalho precárias tal qual nos séculos passados, no entanto, vez ou outra surgem situações parecidas que são extremamente chocantes.
Alguns desses casos ocorrem na indústria da moda, que é o segundo setor que mais explora a mão de obra, havendo diversos casos de grandes grifes que usavam serviços onde pessoas eram submetidas a condições desumanas para criar suas peças.